E depois, o que fazer?

Aproximar-se, por vários caminhos, da cultura das salas de aula, nas séries iniciais e fases seguintes, é a proposta que une os textos deste Letra A. Tendo, então, a aprendizagem em sala de aula como eixo, lgumas matérias apontam desdobramentos da fase inicial da alfabetização que geram dúvidas e pedem reflexão. Entre elas, destacamos aquela que trata da continuidade do trabalho iniciado no primeiro ciclo, a partir de uma questão recorrentemente colocada por professores alfabetizadores:

Como dar seqüência à alfabetização, promovendo, junto aos alunos do segundo ciclo, usos efetivos da escrita e da leitura?

Nesta fase, ainda há muito que ensinar, em termos de língua escrita.

Ao nos preocuparmos com o desenvolvimento da alfabetização e do letramento nos ciclos seguintes ao da alfabetização inicial, torna-se fundamental envolver alunos e professores, cada vez mais, na definição de metas e progressões a alcançar. Para fazer projeções sobre os conteúdos e capacidades lingüísticas dessa fase, é necessário compreender o que torna específico o tempo de aprendizagem do segundo ciclo. Uma das metas centrais deve ser a crescente autonomia dos alunos. Que possam ler e escrever textos, sempre mais variados, que circulem em esferas além do cotidiano. Que o façam sem prejuízo da reflexão sobre os fenômenos da língua. Isto pode ser feito de forma compartilhada e negociada na sala de aula.

É preciso lembrar que, com crianças do segundo ciclo, não podemos abandonar conquistas e culturas do ciclo anterior em função da progressão dos tempos e conteúdos escolares. Uma dessas conquistas é a aprendizagem prazerosa, que se faz com humor, cumprindo a função lúdica da linguagem. Que essa função nunca se perca no decorrer dos outros tempos de aprendizagem que virão. Daí a dica de apropriação do repertório da literatura oral, como as adivinhas, rico material lingüístico para aguçar e desenvolver a percepção dos sons e dos sentidos. Na interação com esses textos, os alunos podem participar efetivamente de um jogo de regras partilhadas por eles. Se ainda não conhecem as artimanhas das adivinhas, logo perceberão o convite à participação, assim lançado:

“o que é, o que é”. Textos lúdicos escolhidos para as interações em sala de aula devem acompanhar o aluno em todas as etapas. O mesmo se pode dizer do humor. As descobertas que a linguagem propicia ao fazer rir podem ser também exploradas, tanto no início da aprendizagem da escrita quanto com o aluno que já “passeia” mais desenvolto pelos textos com os quais interage.

Na entrevista desta edição, outra proposta para uma melhor compreensão do processo de aprendizagem, contando com instrumentos mais eficazes de observação: Judith Green fala da riqueza que se pode encontrar em cada sala de aula e da necessidade de que todos que usam esse espaço compreendam os elementos que o organizam. A cultura de uma classe – alunos e professor(a) – relaciona-se com aspectos gerais da escolarização, mas há, em cada sala de aula, singularidades que um grupo colaborativo pode desvendar e partilhar. É preciso, no dia-a-dia da sala de aula, estabelecer metas e projetos comuns, pautados por decisões de professores e alunos, tornando essa cultura visível para, por exemplo, alunos que vêm de outras escolas e culturas e que precisam entender como o grupo funciona. Um olhar etnográfico como metodologia de trabalho envolve alunos e professores como observadores do que ocorre na sala de aula, refletindo sobre o seu funcionamento.

A cultura da sala de aula e da escola pressupõe outra: a cultura escrita, que se desenvolve num contínuo processo de mudança, sobretudo quando assamos a usar novos instrumentos para escrever. Hoje se coloca em questão alguns aspectos que antes eram centrais no aprendizado da escrita, acentuado pelo fato de o manuscrito dividir suas práticas com outros modos de escrever. No entanto, a escrita caligráfica, bem cultural que herdamos, cumpre uma função social e estética. Embora o ensino da caligrafia tenha saído de foco, como objeto de ensino, cabe principalmente à escola ensinar esse gesto de procurar escrever bem com mais “economia”. Passada a euforia do advento da escrita “teclada”, é hora de voltar nosso olhar para o ensino da caligrafia, atualizando a sua função e a sua necessidade.

Esperamos que estas e outras temáticas das matérias deste Letra A repercutam na conversa dos professores e enriqueçam sua reflexão sobre
a aprendizagem da escrita nos diferentes contextos e culturas escolares. Caso sintam-se instigados pelos textos de nosso jornal, escrevam-nos.

Créditos: https://www.ceale.fae.ufmg.br/files/uploads/JLA/2007_JLA12.pdf

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